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Edu de Barros
Rio de Janeiro, RJ.
Estudos em aquarela, 2024
E série de pinturas Lobinho Lady Billings, 2024,
registro de obra, 
placa cimentícia no espaço público

Pintor carioca, Edu de Barros lançou sua atenção a algumas cenas específicas que lhe causavam estranhamento durante suas derivas e deslocamentos pelo território do Pós-balsa: galhos que mais parecem ossadas de baleias em meio à represa; exércitos de biguás fazendo a escolta da orla junto à encosta; um cão perseguidor e um tanto quanto vigilante; além de uma mulher à sós, junto às margens da Billings, buscando, pelo solo degradado, descartes com alguma valia. Em suma, trata-se de uma série de imagens de marca distópica ou cuja paisagem traz vestígios de abandono ou degradação. As imagens representadas foram transpostas em placas cimentícias e instaladas em pontos de fluxo e passagem do Pós-balsa. Dentre as obras realizadas, encontra-se o trabalho intitulado "Lady Billing" alocado na estrutura de sustentação da via Imigrantes. 

Edu de Barros

Texto de Bruna Fernanda

Pesquisadora, curadora e historiadora.

Mestra em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB USP

 

Edu de Barros é natural do Rio de Janeiro e estava acostumado com as paisagens repletas de pessoas e estímulos visuais da capital fluminense, assunto do seu trabalho em pintura. Quando chegou no pós-balsa, percebeu as palpáveis diferenças entre o novo ambiente e as imagens tão familiares de seu contexto de origem. O estranhamento no olhar e o deslocamento da presença levaram o artista a nomear sua estada e seus processos como “alienígena”: um outro, que vem de fora, mas, como os famosos seres extraterrestres na cultura pop, muito interessado em apreender e ressoar aquele novo mundo que se desnudava a sua frente.

 

A primeira coisa que Edu notou foi a baixa presença de pessoas nas paisagens. Ainda que dados oficiais da prefeitura de São Bernardo do Campo estimem mais de 13.000 moradores na região, a maioria deles se desloca cotidianamente para as margens urbanas da represa Billings para trabalhar ou, ainda, só frequentam o local aos finais de semana em busca de lazer. Por isso, quando o artista saiu para observar o território e registrar o espaço por meio de fotografias e desenhos, o que mais apareceu foi a água esverdeada, a terra de suas margens, galhos caídos, a vegetação e os animais comuns na região, como aves e cachorros.

 

Esse exercício deu origem a uma série de seis aquarelas. Em apenas uma delas, uma figura humana se fez presente: batizada como Lady Billings, a personagem foi avistada por Edu de Barros quando o grupo de residentes atravessava a balsa que liga o bairro Taquacetuba, em São Bernardo, à ilha do Bororé, na região sul de São Paulo. O artista costuma atribuir características mitológicas e proféticas para as figuras cotidianas que adentram suas obras, como um deslocamento profano do mundano para sacralidade historicamente atribuída à pintura. Em meio a uma paisagem degradada composta pelo solo deteriorado das margens da represa, vegetação e detritos humanos, a Lady Billings buscava materiais recicláveis, provavelmente sua fonte de renda. Na obra de Edu, essa personagem comum e anônima no entorno das balsas da Billings se tornou o centro de um prognóstico pictórico daquele território. 

 

Quando o artista retornou para a segunda semana de imersão no pós-balsa, dedicou-se à execução de um projeto que consistia na criação de pinturas à óleo sobre placas cimentícias a partir das fotografias, desenhos e aquarelas que produziu na primeira etapa da residência. Seu objetivo era aplicar essas pinturas sobre diferentes construções na região, emulando a tradição dos afrescos e propagando a mitologia do comum daquela e naquela paisagem. Edu pintou a Lady Billings; o Monstro do Lago, que retratou pássaros e urubus repousando sobre galhos expostos sobre a superfície da represa, como os chifres de antigas criaturas submersas; Lobinho, um simpático cachorro nadando em direção ao artista; e Banho na Represa, um flagrante das aves enfileiradas à beira da água. 

 

A primeira obra foi aplicada sobre uma pilastra de sustentação sob a Rodovia dos Imigrantes, às margens da Billings. A segunda faz parte de uma ocupação de Edu, Josué Pavel Herrera, Matheus Nogueira e Vinícius Barajas em uma casa na Reserva das Cuícas, que futuramente servirá como espaço de recepção de grupos e visitantes no espaço voltado para a preservação ambiental e cultural da região. Banho na Represa foi instalada atrás de uma placa de sinalização metálica próxima à balsa João Basso. Lobinho, por sua vez, aguarda o encontro de um lugar perfeito para sua aplicação, como a fachada de uma ruína ou de um templo religioso.

 

Essa série de trabalhos de Edu de Barros incide na confluência entre paisagem natural e paisagem urbana que caracteriza o território do pós-balsa, tanto em sua materialidade e lógica de aplicação quanto na figuração escolhida. Em trabalhos anteriores, Edu fragmentou grandes pinturas sobre drywall que formavam uma capela em peças menores. Aqui, o suporte já era fragmentado, e a pintura serviu como uma camada narrativa que uniu as placas cimentícias pré-cortadas. O novo movimento na produção do artista vai ao encontro da sua vontade de deslocar as imagens cotidianas para um lugar de contemplação conferido pela tradição pictórica, propondo um outro modo de olhar para o mundo fronteiriço e singular do pós-balsa.

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