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J. Pavel Herrera
Havana, Cuba
Primavera na Billings, 2024
tinta óleo sobre tela, 78 x 107 cm
Welcome São Paulo, 2024
da série Longe do Perto,
tinta óleo sobre tela,
130 x 150 cm, 2024

Em “Welcome São Paulo”, o artista cubano Pavel Herrera nos oferece uma perspectiva aérea que recorta um trecho da Represa Billings, situada entre as regiões do Pós-Balsa e Bororé. A imagem indica o limite entre os municípios de São Bernardo do Campo e São Paulo, duas cidades intensamente marcadas pela urbanização, mas aqui apresentadas sem qualquer vestígio visível de construção humana. Esse contraste, sublinhado pela imensidão da paisagem natural, acentua o estranhamento diante desse encontro territorial. Já na pintura “Primavera na Billings”, parte da série Variações de Luz, Pavel rompe a neblina que frequentemente encobre a vista local. Entretanto, longe da imagem típica da primavera, ele retrata troncos submersos que revelam vestígios da antiga mata alagada durante a construção da represa — uma presença silenciosa, porém ainda visível, que denuncia a contínua transformação do território ao longo dos últimos 100 anos.

 

Durante sua residência, Pavel também realizou uma pesquisa sobre o grau e as características da contaminação das águas da Billings. Paralelamente, por meio da aquarela, explorou os tons das águas, da vegetação e da terra, buscando emular as nuances da paisagem que compõem a represa. A combinação dessas abordagens reflete sua sensibilidade ao território, tanto em seus aspectos visíveis quanto nos invisíveis, como os efeitos da intervenção humana sobre o ambiente.

Mônica Ventura

Texto de Luciano Nascimento

Pesquisador, filósofo e esteta

Doutor em Estética e História da Arte pela USP

e pesquisador visitante UFABC

 

O artista cubano Josué Pavel Herrera, residente no Brasil há oito anos, mora próximo ao rio Pinheiros e costuma pedalar pela ciclofaixa da Marginal. Em um período de seca, observou a intensa cor verde, oriunda de cianobactérias que dominava a superfície do rio. Pavel, cuja poética se assenta em uma reflexão geopolítica das paisagens, registrou a mesma coloração nas águas da represa Billings, que, durante a residência Casco, passava por uma seca pronunciada — fato mencionado por diversos moradores locais.

 

Ao saber da conexão entre as águas do Pinheiros e da Billings, Pavel percebeu que não se tratava apenas de um fenômeno bioquímico decorrente da estiagem, mas de um entrelaçamento de corpos hídricos causado pela dinâmica da metrópole. A inquietação provocada pelas águas urbanas foi seu ponto de partida na residência. Sua reflexão pictórica se desenvolveu a partir de estudos em diferentes pontos da represa, onde recolheu amostras e realizou testes rápidos de qualidade da água.

 

O artista buscava compreender o território e a própria represa a partir das contaminações urbanas visíveis também em sua dimensão cromática. No entanto, constatou que o kit de análise que havia levado era insuficiente para aferir a complexidade da poluição presente. Se voltou para a observação da paisagem a partir do conhecimento cartográfico desenvolvido a partir de suas explorações ao longo do território. Essa sensibilidade cartográfica está presente nas pinturas que Pavel realizou em diferentes ruínas do território do Pós-Balsa, bem como feita em telas apresentadas na Exposição Notas do Além Balsa, realizada pelos alunos bolsistas da UFABC no Foyer do Campus Santo André. 

À medida que se apropriava da paisagem local, emergiu uma relação afetiva com sua memória pictórica enquanto artista nascido e criado em uma ilha. Embora, em termos macro, a represa se configure como uma massa de água cercada por terra — o oposto da ilha —, em termos micro, a paisagem do Pós-Balsa remete à experiência insular. Os meandros da Billings impedem sua visualização como um todo, fazendo com que surjam constantemente pequenas ilhas à vista.

 

A paisagem tornou-se protagonista na experiência de Pavel durante a residência, e isso se manifesta na pintura Primavera na Billings. Nela, a presença de uma bruma cria uma aura de indefinição realista: não se sabe ao certo se se está diante de uma ilha ou de uma represa. A Billings foi, aos poucos, sendo incorporada à poética e à memória pictórica do artista, que passou a perceber uma São Paulo muito distinta daquela que conheceu ao chegar de Cuba e se instalar no centro da cidade.

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