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Gustra Martin
& Walter Alves

São Bernardo do Campo, SP
Pé de barro, 2024
série de peças em cerâmica

Em parceria com o artista local Walter Alves, Gustra desenvolveu uma pesquisa focada sobre os pés humanos e não humanos que habitam o território do Pós-balsa. A investigação buscou problematizar o uso pejorativo da expressão “pé de barro”, frequentemente empregada para descrever de forma depreciativa os moradores afastados dos centros urbanos. Como resultado, foi criada uma série de impressões de pés em placas de barro, reunindo as marcas de seres animais e vegetais representativos do ecossistema local. Entre os protagonistas, destacam-se a galinha, gato, cavalo, camaleão, onça, anta, capivara, jabuti, cachorro, além de plantas como abacate, cambuci, cidreira, boldo, espada de São Jorge, pariparoba, dorme-dorme, margaridão, ora-pro-nóbis, taioba, morango do campo, aroeira e uva do monte — sem esquecer os próprios artistas. A proposta da dupla foi trazer esse conjunto de pés para o outro lado da balsa, transformando o significado da expressão popular. Ao ressignificá-la, o trabalho buscou aportar uma nova carga simbólica, destacando a valorização identitária daqueles que coabitam a região.

Gustra Martin

Texto de Paula Borghi

Pesquisadora, curadora e historiadora da arte.

Doutoranda em História Teoria e Crítica de Arte pela UFRJ

 

Para um círculo ser o que é, o ponto em que ele se inicia deve ser o mesmo em que finaliza. A respeito das imagens circulares, Sidarta Ribeiro narra que desde o período Neolítico é possível se deparar em abundância com elas, pois é a partir de então que se tem a noção do tempo circular desencadeado pela agricultura, a compreensão do ciclo lunar e das estações do ano – sendo possível conjecturar que imagens circulares criam uma relação com o ciclo da vida. É com essa imagem, imersa em seus significados ancestrais, que Gustra desenvolveu seu processo artístico ao longo da residência, atuando como um multiartista curioso em aprender com o grupo e igualmente generoso em compartilhar seus conhecimentos sobre o território do Pós-Balsa, seu local de origem.

 

Como uma pessoa coletiva que é, o artista trabalhou em parceria com Walter Alves, ceramista da Baluarte e também natural do Pós-Balsa. Juntos os dois desenvolveram uma pesquisa sobre os pés que habitam o território, tanto os pés humanos, como os não-humanos. Se atentando para “o mistério da sola em contato com o solo”, como bem menciona Gustra, foram produzidas 25 impressões de pés sobre placas de barro, a saber: galinha, gato, cavalo, camaleão, onça, anta, capivara, jabuti, cachorro, abacate, cambuci, cidreira, boldo, espada de São Jorge, pariparoba, dorme-dorme, margaridão, ora-pro-nóbis, taioba, morango do campo, aroeira, uva do monte e os próprios artistas.

 

O resultado é a instalação Pés de Barro, cujo título vem da apropriação de um ditado que nomeia de forma pejorativa quem mora no Pós-Balsa. Aqui é possível, por exemplo, traçar um paralelo com a Marcha das Vadias, uma manifestação de mulheres que se apropriam do adjetivo vadia – cunhado pelo patriarcado para menosprezar aquelas que lutam por seus direitos – subvertendo seu significado original como um movimento de empoderamento delas e em confronto com aqueles que as subjugam, as menosprezam. Em ambos casos, a violência das palavras não chega a agredir o alvo, pois elas são automaticamente ressignificadas.

 

Em continuidade a transformação deste ditado, os artistas também realizaram uma vídeoperformance em que Gustra pisa no barro como quem prepara a argila para ser moldada. Caminhando em círculo ele dá forma a espiral da vida, pois tal como no Neolítico ele aqui também se atenta aos saberes que vem da terra e da Terra. Ao fim da ação, com seus pés tomados pelo barro, ele caminha no espaço e deixa sua pegada, sua marca. São trabalhos que homenageiam e valorizam os pés do Pós-Balsa.

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