top of page
VINI-12.jpg

Vinicius Barajas
São Bernardo do Campo, SP
Série Margem
têmpera ovo com terra do Pós balsa,
sobre lona 
crua, 40 x 30cm, 2024

 

Artista de São Bernardo, Vinicius Barajas constrói
seu universo artístico a partir dos recursos naturais que encontra ao seu redor. Durante sua imersão no território do Pós-balsa, dedicou-se à coleta de argilas e fibras locais, que serviram como base para todas as obras criadas durante o programa de residência. Na série Margem, composta por uma instalação cerâmica e um conjunto de 5 pinturas, o artista dá evidência à massa de terra que costea a represa Billings. Assim, ao destacar as margens que emergem em períodos de estiagem, Vinicius registra uma paisagem um tanto singular e atípica, apenas visível em tempos de seca. Além disso, utilizando fibras de bananeira coletadas nas proximidades da casa onde a equipe firmou sua base, o artista produziu folhas de papel, sugerindo usos alternativos à vegetação local. Arrebatado pela riqueza natural da região, parte da cidade onde nasceu, afirma que, se tivesse conhecido o Pós-balsa anteriormente, talvez nunca tivesse deixado São Bernardo do Campo.

Vinicius Barajas

Texto de Paula Borghi

Pesquisadora, curadora e historiadora da arte.

Doutoranda em História Teoria e Crítica de Arte pela UFRJ

 

Tocar a paisagem até se tornar parte dela; é com este método que Vinicius Barajas pega o solo, as plantas, deixa a terra e a clorofila entrarem por debaixo de suas unhas, para então começar a situar seu corpo onde quer que esteja, pois é somente a partir da conexão da epiderme com o local, que seu processo artístico se inicia. Como bem se pode notar em uma de suas esculturas, um objeto amuleto, vê-se a imagem congelada de seu gesto ao pegar o barro, enquanto fibras de bananeira o atravessam e sustentam. Trabalhar com o solo e com o que nele se encontra é uma prática comum em sua pesquisa.

 

Na primeira semana de imersão ele visitou junto ao grupo de residentes a tekoa Guyrapaju, aldeia do povo guarani localizada próxima a um dos braços da represa Billings, onde algumas casas são feitas com pau-a-pique. Inspirado pela visita, ele acessou sua formação de arquiteto e incorporou os aprendizados do “Manual do Arquiteto Descalço”, de Johan van Lengen, para a realização de um trabalho site specific numa ruína na Reserva das Cuícas. Fechando uma de suas janelas com pau-a-pique, ele justapôs um modo de construção que utiliza apenas os materiais encontrados ao redor com um que é fomentado por aquilo que a indústria produz; unindo numa mesma parede duas formas opostas de habitar o mundo.

 

Também durante a residência ele desenvolveu a série Margem, composta por cinco pinturas em pequeno formato elaboradas com pigmentos extraídos do próprio território do Pós-Balsa, cada qual correspondendo a uma tonalidade própria da argila: roxa, vermelha, laranja, ocre e mostarda. São pinturas paisagens que trazem para a própria imagem uma metáfora do local a qual elas pertencem, de modo que a terra pigmento é a própria terra ali apresentada. Em oposição, a água é simulada pela tela crua, nua de pigmento, tal qual uma represa vazia a ser preenchida pela chuva. Isso porque a seca da Billings é um dado que acompanhou a residência artística, uma vez que durante este período a redução do nível da água se fez visível a olho nu.

 

Também como parte da série Margem, o artista desenvolveu esculturas em cerâmica que seguem a comunicar sobre algumas das consequências já ocasionadas pelas mudanças climáticas, tal como a própria estiagem. Realizadas com argila do centro de São Bernardo e pintadas com pigmentos extraídos do solo descoberto pela água da Billings, contendo mica em sua composição, ele une os dois locais numa mesma imagem. Como se fossem os dois lados de um rio, as esculturas são posicionadas de forma que a presença da água, uma vez mais, é preenchida pela imaginação.

 

O espaço vazio que se instaura em ambos trabalhos da série Margem, não deixa dúvidas que o assunto de Vinicius Barajas é a Terra, um planeta composto majoritariamente por água, cujos habitantes caminham para um futuro próximo marcado pela escassez daquilo que deveria ser sua maior abundância. Assim, compreendendo o corpo como parte da materialidade terrestre, o artista nos atenta para a vida, lembrando que a palavra homem deriva do latim ‘homo‘, vindo do termo ‘humus‘, significando a parte viva, orgânica, do solo.

logo_casco.png
TRES-LOGOS-PRETOS.png
TRES-LOGOS-PRETOS.png
bottom of page